sábado, 23 de maio de 2009

TROPICÁLIA MIDIÁTICA


1964, Brasil. O pais encontrava-se em constantes conflitos sociais. A população vai as ruas para protestar contra o governo de João Goulart. Estudantes, organizações populares e trabalhadores ganharam espaço, causando a preocupação das classes conservadoras, tais como, empresários, banqueiros, Igreja Católica, militares e classe média. Todos temiam que o Brasil se voltasse para o lado socialista. Este estilo populista e de esquerda, chegou a gerar até mesmo preocupação nos EUA, que junto com as classes conservadoras brasileiras, temiam um golpe comunista no Brasil.

O clima de crise política e as tensões sociais aumentavam a cada dia, até que na noite de 31 de março de 1964, ocorreu o Golpe de Estado, dando início ao período da Ditadura Militar, que ficou no poder até o ano de 1985. Instaurado o regime militar, os generais do exército passaram a governar o país de forma conservadora e autoritária, através de Atos Institucionais. Jornalistas, estudantes e intelectuais eram considerados “subversivos”.

Em 1968 os jovens se rebelavam em várias regiões do mundo. O Planeta passava por uma intensa modificação quanto aos valores sociais e individuais. Um ano de muitos protestos por parte dos jovens que viam que algo estava errado e necessitava de mudanças. Na França, os estudantes quase tomaram o poder. Nos Estados Unidos se rebelavam contra a Guerra do Vietnã. No Brasil, o movimento estudantil tem como alvo a ditadura militar, as passeatas dos estudantes e intelectuais enchiam as ruas.





Era um grande marco para a globalização e inicio de uma nova era para os meios de comunicação, e sobre tudo para a Industria Cultural. De certa forma, jovens de vários países mesmo sem se conhecerem estavam sintonizados e “enredados”. O mundo mudava, logicamente que cada país tinha o seu “time” mas os objetivos eram basicamente os mesmos: “libertade”.

Em meio a essas mudanças globais, compositores baianos (Tom Zé, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Torquato Neto) deram inicio a Tropicália. Foi um movimento cultural brasileiro, iniciado no festival de MPB realizado pela TV Record em 1967. Era uma versão brasileira do movimento rippie americano, buscando a liberdade de expressão. A utilização da música para promover uma ruptura aos limites impostos pela Ditadura era algo marcante, trazendo irreverência e informalidade, mas com uma mensagem de fundo.




A repressão era grande e em 1968 o governo sanciona o AI-5, restringindo ainda mais a veiculação das músicas e também as manifestações dos civis, censurando qualquer tipo de material que pudesse ser uma ameaça. Porém a intelectualidade dos compositores era superior a ignorância dos militares. Esta foi uma maneira de nossos artistas não se calarem, mesmo com as leis impostas pelos governantes, o desejo de viver em um país democrático falava mais alto, mais era necessário ser muito mais do que intelectual, era preciso ser estrategista, coisa que nossos heróis fizeram muito bem. A utilização da música que é extensão de nossos sentimentos, incorporada a uma linguagem totalmente adaptada por meio de signos e símbolos conseguia atingir e sensibilizar as pessoas, de maneira a mostrar para o povo que os tropicalistas estavam enxergando os problemas do país e principalmente que estavam ajudando a quebrar os paradigmas militares de uma forma massificada, e conscientizá-las de que o país estava mergulhado num regime de horror.

Ao incorporar signos da indústria cultural e pondo-os em fusão com os materiais das tradições nacionais, a Tropicália incrementou processos de comunicação dentro da estética musical e seus ambientes midiáticos. O fato é que de uma forma ou de outra a massificação cultural parecia exigir posicionamentos, e as controvérsias daí decorrentes não se restringiam ao Brasil. Os conhecidos questionamentos sobre a “cultura de massas”, como os desenvolvidos pelos teóricos de Frankfurt, ainda estavam em curso, o que levou os militares brasileiros a prenderem Caetano Veloso e Gilberto Gil e posteriormente exilá-los para a Inglaterra.





A Tropicália durou 14 meses. De início muitas pessoas não compreendiam as letras, e a rejeição ao movimento era grande, porém a polêmica em torno disto gerava ainda mais veiculação na mídia, sobre tudo na TV e no rádio. O jeito despojado de se vestirem, aliado a música Popular Brasileira "globalizada" e hibridizada pelas guitarras elétricas americanas, aliado as críticas a Ditadura Militar contagiavam o público e até hoje é tido como o movimento musical mais importante da história da música nacional, se perpetuando aos nossos dias refletindo na música, na arte, e no comportamento do povo brasileiro.

Fontes:
http://revcom2.portcom.intercom.org.br/index.php/Comedu/article/viewFile/4489/4211
http://www.revistacontemporaneos.com.br/n3/pdf/tropicalia.pdf
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/648-2.pdf?PHPSESSID=2009050708274935
http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=6881288
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Pos_Graduacao/Mestrado/Educacao_Arte_e_Historia_da_Cultura/Publicacoes/Volume3/O_movimento_tropicalista_e_a_revolucao_estetica.pdf
http://www.youtube.com/watch?v=Emm1oFoUtd0
http://www.youtube.com/watch?v=M1IAfNEGluY
http://www.youtube.com/watch?v=hxvfPquvBH8&NR=1

Aulas – Professor Márcio Rodrigo


4 comentários:

  1. Belo texto, a tropicália foi muito criticada na Época, pois principalmente a partir de 68 todos já estavam de saco cheio da ditadura e queriam musicas de impacto, havia uma guerra onde de um lado estava a esquerda com os intelectuais e uma parte da juventude e de outro a direita no governo e a tropicália não era esquerdista e nem da direita, o pouco que conheço desse estilo faz com que eu ache que eles eram mais próximos dos hippies mesmo.
    A guerra fria estava explodindo no Brasil, sendo que havia um monte de intelectuais marxistas pensando no comunismo e a ditadura capitalista e de estrema direita, vejo a tropicália no meio, acho que muitas musicas do Caetano e do Gil profetizaram os dias de hoje, acho que o olhar deles era mais aberto, por isso eram incompreendidos no começo.

    A única pena é que ao envelhecer vemos:

    Que quem me deu a idéia de uma nova consciência e juventude, está em casa guardado por deus contando mil metal.

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  2. Caro Elifas!

    GENIAL mais uma vez!
    Parabéns!

    Qem deflagrou a Tropicália foi Hélio Oiticica seus penetráveis e parangolés...artes visuais que tomaram outras artes.. híbridos e mais híbridos

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Muito bom artigo! Excelente informação! Gostei!

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