segunda-feira, 4 de maio de 2009

A evolução da escrita: das paredes das cavernas ao hipertexto


Todas as formas de inscrição gráfica se originaram da necessidade humana de se comunicar e se exprimir, certo? Pesquisadores afirmam que até hoje não existem provas concretas de ter sido utilizado algum sistema completo de escrita antes do século 49 a.C.. As mais antigas formas de escrita apresentavam figuras de animais, modelos geométricos e objetos de variados tipos. Não eram apenas formas de expressão, comunicação ou decoração. Provavelmente ligavam-se à magia e a práticas rituais. Primeiras tentativas de materializar sons, sensações, idéias e desejos. A escrita desenhada talvez não trouxesse sentenças inteiras. Comparando com a escrita atual, devia trazer apenas nomes.

SegundoRAMAL, nas culturas que não conheciam a escrita, a transmissão da história se dava através das narrativas orais: o narrador relatava as experiências passadas a ouvintes que participavam do mesmo contexto comunicacional porem, quando os mais velhos morriam, apagavam-se dados irrecuperáveis. O saber e a inteligência praticamente se identificavam com a memória, em especial a auditiva.

Com a escrita inaugura-se uma segunda etapa na história humana e com ela, mudaram as relações entre o indivíduo e a memória social. O que não significa que a oralidade perdeu espaço, pois continuamos falando, mas o sujeito pode colocar sua visão de mundo, as culturas, seus sentimentos e vivências, no papel. A escrita trouxe o sentido da linearidade, ou seja, na memória de uma cultura já não caberia mais em apenas um conto, mas sim em documentos e registros históricos, inscritos em uma cronologia.
A escrita toma o papel da memória: é como se fosse um auxiliar situado fora do sujeito.

O conhecimento escolar da cultura letrada se estruturou como as páginas de um livro: linear e segmentado. No livro é difícil consultar dois trechos de páginas diferentes ao mesmo tempo. Define-se, portanto, a escola de hoje como possuidora de características onde um único sentido se sobressai, impedindo os demais e não polifônicas, baseando-se nos conceitos do russo Mikhail Bakhtin.

Curiosidade:
Em 1450 Johannes Gutenberg, desenvolveu tipos móveis de metal. Letras, números e sinais de pontuação eram agrupados manualmente em linha, formando palavras e frases, fixados em caixilhos de madeira. As palavras eram separadas por tipos lisos que não imprimiam nada, resultando nos espaços em branco entre elas. Montada a página, passava-se tinta sobre o relevo, pressionando os caixilhos sobre o papel com uma prensa inspirada na de espremer uvas. A difusão foi imediata, era mais barato e rápido. Democratizando o acesso à informação, com a possibilidade de reproduçaõ de livros e mais tarde dos jornais e iniciando uma nova era para os meios de comunicação.
dica: documentario sobre a prensa de gutenberg, em inglês.
http://www.dontpressme.com/video/gutenberg.html

RAMAL diz que “a linearidade dará lugar ao hipertextual, ao móvel e flexível.”,“a estrutura do hipertexto é a mediação para a produção de conhecimento implicando em novas formas de ler, escrever e aprender.”
Esse momento chegou!
Onde? Na internet, que trouxe por exemplo a possibilidade, diferente do livro, de postar este texto e logo abaixo de um termo colocar um link onde você possa descobrir o que ele significa e logo depois voltar a ler meu post.
Quer exemplo melhor de meio polifônico do que a internet na evolução da escrita?

Mas o que é o hipertexto? Como o próprio nome diz,algo que vai além do texto. Dentro do hipertexto existem vários links, que permitem tecer um caminho para outras janelas, conectando algumas expressões com novos textos, se distanciando da linearidade da página e se pareçendo com uma rede. Na Internet, cada site é um hipertexto - clicando em algumas palavras vamos para novos trechos, e construindo, nós mesmos, uma espécie de texto onde as partes podem ser agrupadas e reagrupadas pelo leitor".

Cada uma das páginas da rede é construída por vários autores: designers, projetistas gráficos, programadores, autores do conteúdo do texto. Não existe, portanto, um único autor: seria mais adequado falar de um sujeito coletivo, uma reunião e interação de pessoas que produzem conhecimento e navegam juntas. Como no software livre por exemplo. (tema do meu proximo post)

O hipertexto, alem de uma nova forma de escrita e de comunicação da sociedade, é também algo que vale para outras dimensões da realidade. aí está uma de suas conexões com o campo educacional: O hipertexto como mediação para a produção de conhecimento. Trazendo novas formas de ler, escrever, pensar e aprender.

Enfim a linearidade, que teve data de nascimento (o aparecimento da escrita) e papel determinante no pensamento ocidental, tem agora, nesta nova interface, o momento de seu declínio,será?
O Fernando Barreto fez um texto bem legal sobre o Kindle, um livro eletrônico, já deu uma olhada? seria o kindle a evolução do livro?
http://radioetvunisa.blogspot.com/2009/04/livro-eletronico.html

Com o hipertexto, agora ler é mergulhar na rede, se perder e se libertar da linearidade. Sem início, sem fim e sem um percurso estabelecido, cada texto termina com a abertura para outros. Sem um princípio único, várias narrativas tornam-se possíveis, uma construção em que o expectador ou o leitor tece a narração seguinte. O hipertexto nos permite a visibilidade das janelas, a abertura das muitas caixas de texto, os recursos de cortar e colar fragmentos, a infinidade de dobras.

O texto não é mais algo que se pode tocar, apenas no papel, mas feito de bites, e ocupam um espaço difícil de definir ou imaginar.

Até hoje o professor trazia o saber, a norma culta, a escrita "correta", para os não-letrados, reproduzindo na sala de aula as historias vividas pelas culturas orais. Hoje, ocorre uma mudança: aquele a ser educado é o que melhor domina os instrumentos simbólicos do poder, o aparato de maior prestígio: as tecnologias. O que ocorrerá na sala de aula? Se alguém sabe me fala aí! vamos acabar fazendo trabalhos como este,ao invés de diciplinas chatas apenas nas salas de aula e com inúmeros seminários?

Talvez o hipertexto - construído na soma de muitas mãos, e aberto para todos os links e sentidos - seja uma versão dessa polifonia que Bakhtin procurava; e na escola, uma possibilidade para construir uma sala de aula aberta para as muitas vozes e para um maior acesso aos meios como foi com os tipos móveis de Gutenberg. A escola da cibercultura pode tornar-se o espaço de todas as vozes, todas as falas e todos os textos.

Esse video foi o inicio deste post, o pontapé! Dê uma olhada...



A evolução da escrita, que começa com o papel e o lápis, passa pelo texto digital e chega ao hypertext markup language, html. Com os links, a escrita perdeu a linearidade e ganhou a dimensão virtual.

E até o próximo texto.
Fabíola Mamedes

Vídeo: www.youtube.com
imagens:www.google.com.br

Referencias:
RAMAL, Andrea Cecilia. Ler e escrever na cultura digital. Revista conecta, edição 04

Aulas de comunicação comparada, professor Marcio Rodrigo:
17/03/2009- a invenção da prensa por Gutenberg, eras culturais
04/03/2009- Mikhail Bakhtin (polifonia)




4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Otimo post, parabéns.

    Olha eu não concordo que a prensa troxe a democratização do acesso a informação, pois quantas pessoas sabiam escrever na época?

    E o que mais me dá medo na internet é o fato de que retirem os professores das salas de aula e coloquem agente para ter "unisa digital" em todas materias.

    4 de Maio de 2009 10:06

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  3. isso me dá medo também!!

    mas acho que de alguma forma ajudou sim a democratizar o acesso a livros!
    já que o acesso era mais facil mais pessoas passaram a ser alfabetizadas etc.

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  4. Dona Fabíola: pronta para fazer pós em Comunicação Comparada...parabéns.
    Mesmo a distancia é possível dar grandes aulas.. só não ceito ser substituido por um robô japonês... ai eu PROTESTO. rs

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