sábado, 23 de maio de 2009

"INTERTEXTUALIDADE: O INTERTEXTO DA CÓPIA.

Andei refletindo desde que tivemos aquela aula sobre intertextos e após ler Ana Maria Balogh, comecei a reparar que o ciclo redundante que causa a intertextualidade é mais presente do que imaginava.
Nos últimos meses, entre as leituras dos textos da faculdade, comecei a ler a série de livros “Crepúsculo” de Stephenie Meyer. Interessei-me pela obra após ver a sua versão, ou o intertexto, feito para o cinema. A história de uma família de vampiros que escolhem a úmida cidade americana de Forks, em Washington para morar, empolga pelo romance que o vampiro adolescente Edward Cullen vive com cobiçada Isabella Swan, filha do xerife da cidade. Você pode estar se perguntando por que escolhi falar de Crepúsculo para ilustrar a intertextualidade, mas pasme, a história é recheada de referências de outras histórias, inclusive brasileiras.


Lembra-se que em uma outra história, a Bela (como a Bella do livro de Meyer, diga-se de passagem) se apaixona pela Fera. A “princesa” do clássico da Disney é a única a não sentir medo de seu amor, Bella Swan de Crepúsculo também. O livro faz uma relação da história, com o conto bíblico de Adão e Eva. Na capa, uma maçã de cor vermelha-sangue é oferecida por um par de mãos pálidas fazendo uma referência à sede que o vampiro protagonista sente do sangue da amada. Durante toda a história ele luta contra a tentação tal como o casal bíblico. Outro dado interessante de Crepúsculo é o nome da cidade vizinha à Forks, Port Angels. Pode parecer coincidência, mas Porto dos Anjos (tradução de Port Angels) é o nome de uma outra cidade vizinha, de outra cidade habitada por vampiros. Lembra-se de “Vamp”? Pois é, os personagens da novela sempre iam à Porto dos Anjos para fazer compras, resolver outros assuntos por se tratar de uma cidade com maior estrutura. Pode parecer pretensão de minha parte dizer que Stephenie Meyer tenha usado a novela de Antônio Calmon como referência para a sua história, mas se formos pensar no sucesso das novelas globais mundo à fora, isso passa a não ser tão impossível assim. Até procurei saber se há outra história de vampiros que tenha uma cidade próxima chamada Port Angels e que tenha sido usada para seus intertextos em Vamp e em Crepúsculo, mas não encontrei. Os intertextos de Meyer não terminam em Crepúsculo, sua continuação, “Lua Nova”, é uma referência clara à “Romeu e Julieta”, com direito a tentativa de suicídio e tudo.

Saindo do universo místico e vindo para o cenário tupiniquim das novelas brasileiras, podemos visualizar centenas de referências, inclusive de autores e suas próprias obras. Muitas vezes alguns autores que tem seu gênero característico, costumam repetir suas próprias histórias e passam despercebidos pelo olhar entorpecido do público.
Cito como exemplo Benedito Ruy Barbosa, que com suas obras: “Os imigrantes”, “O rei do gado” “Terra Nostra” e “Esperança” narrou a saga dos imigrantes italianos no Brasil e esta redundância fez com que o gênero se desgastasse, pois “Esperança” se tornou um dos maiores fracassos do horário nobre da emissora carioca.

Outro exemplo é Gilberto Braga, que em seus dois últimos trabalhos, simplesmente repetiu todos os personagens centrais. Mas fez isso de uma maneira genial, pois ficou praticamente imperceptível aos olhos do público. Em “Celebridade”, Maria Clara Diniz (Malú Mader) tinha uma “amiga” chamada Laura Prudente da Costa (Cláudia Abreu) que na verdade sempre a odiou e ao lado de seu amante Marcos (Márcio Garcia), michê nas horas vagas, armava altas ciladas para a mocinha. Já em “Paraíso Tropical”, Daniel (Fábio Assunção) tinha um “amigo” chamado Olavo (Wagner Moura) que na verdade sempre o odiou e ao lado de sua amante Bebel (Camila Pitanga), prostituta nas horas vagas, armava ciladas para o bom moço. Notou o intertexto? Mas as semelhanças não param por aí, as duas novelas tinham o ar do mistério de “Quem matou?”, já popularizado pelo autor quando, no final dos anos oitenta, todo mundo queria saber quem matou Odete Roitman, mais umintertexto. Em Celebridade, Lineu Vasconcelos (Hugo Carvana), pai de Maria Clara era assassinado e em Paraíso Tropical quem “bateu as botas” foi a cunhada de Daniel, Tais (Alessandra Negrini). Ambos foram vítimas dos “amigos” em questão, Laura e Olavo. Coincidência? Certamente não.

Estes exemplos de textualidade nos fazem pensar que há um lado positivo contido nela. É claro que é preciso ter muito cuidado, pois há uma linha tênue entre intertexto e cópia, mas o intertexto quando trabalhado com a personalidade de seu adaptador, pode dar um ótimo resultado. A prova disso é que a grande parte dos filmes de blockbuster de maior sucesso em Hollywood são intertextos de livros ou de quadrinhos. Cito “A liga Extraordinária” como um belo exemplo do resultado positivo que estas referências podem apresentar.
veja um trecho:


Questiono se é possível criar algo que não esteja “intertextualizado” com algo que possamos ter vivido, assistido ou sabido. O intertexto está relacionado ao conhecimento de mundo de cada um. Creio que se uma pessoa não é boa em seu intertexto, vai passar seus dias fazendo cópias de coisas que já conhecemos, pois essa separação e discernida através da percepção de quem as consome.



Fontes:

" " -Ana Maria Balogh
Aulas de comunicação comparada Professor Marcio Rodrigo
"Crepúsculo - Stephenie Meyer"
"Lua Nova - Stephenie Meyer"

2 comentários:

  1. muito bom jacques

    acho que intertextos são o que diferenciam os homens das maquinas, pois a maquina só faz aquilo que é programada para fazer ja o homem consegue colocar seu ponto de vista em tudo que aprende sempre evoluindo, já por cada um ter um olhar e uma visão de mundo diferente.

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  2. Vixe.. o rapaz tomou a pílula vermelha e agora tá fora da Matrix...hahahahah
    Intertexto e adaptação....curioso o paralelismo...

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