terça-feira, 28 de abril de 2009

"TIC TAC"

As luzes de uma sala de paredes de espelho se acendem, uma figura com um conjunto de malha azul a invade carregando um micro system cheio de luzes. Ao se livrar do conjunto, a figura feminina revela-se com seus cabelos penteados à lá Jane Fonda, aquele já conhecido colan rosa e sandália plataforma coberta de purpurina. Enquanto ela se estica alongando seu corpo para começar a dançar, um insistente som de tic tac de um relógio é ouvido ao fundo e vai aumentando progressivamente. Quando já está alto o suficiente ouve-se a voz de Madonna a sussurrar repetidamente: “Time goes by, so slowly...” (traduzindo: o tempo passa tão devagar...).
Foi nesse tom que a cantora Madonna lançou “Hung up”, o carro chefe de seu penúltimo CD, “Confessions on a Dancefloor” em novembro de 2005. Na época, no auge de seus quarenta e sete anos, a diva mostrou que desafiar o tempo é seu hobby favorito. Vítima do tabu midiático, que ajudou a manter, de que a beleza, a boa forma e o sucesso andam juntos, Madonna já demonstra saber que seu tempo está acabando. Resta saber qual é a sua relação com esse tempo.
Mais uma vez o tic tac do relógio apareceu em seu repertório. “4 minutes” primeira canção divulgada em “Hard Candy”, seu último CD lançado em abril do ano passado, mostra a cantora dançando ao lado de Justin Timberlake e do rapper Timbaland e em um momento da canção imita com a voz o som do tic tac de um relógio.

Madonna não é a única a duelar com o tempo, todos nós temos nossos desafios relacionados à ele. A boa forma e a eterna juventude é pauta de interesse da maioria das mulheres e homens de 30 a 60 anos. A prova disso é que os editoriais voltados ao público feminino e masculino desta faixa etária, sempre dão destaque aos avanços da tecnologia e da medicina que permitem o retardo da velhice. À isso se deve a crescente procura das mulheres pelas cirurgias plásticas que justificam seus motivos com superficialidades como supostos defeitos físicos, insatisfação étnica ou até consolo para dor de cotovelo.

Mas a questão do tempo contra ou a favor da estética é mais complexa se formos discursar sobre a possível influência da mídia neste processo. Temos uma facilidade incrível de nos deixar seduzir pela imagem. Esse torpor pode ser estudado desde os primórdios, mas podemos citar Hollywood como grande dissipadora dos mitos iconográficos. Para destacar alguns exemplos, podemos relembrar a simplicidade com que Rita Hayworth levava os homens à loucura na pele de Gilda (foto), criando a expectativa de livrar os antebraços de uma incômoda (para eles) luva de seda, também a expressão marcante e com certo ar desdém de Rodolfo Valentino,(foto) podemos reviver a cena de Marilyn Monroe segurando o vestido branco que ia pelos ares enquanto ela fazia caras e bocas ou a sensualidade de Marlon Brando com o peito nu no meio à chuva gritando aos quatro ventos o nome da amada em " Uma rua chamada pecado". Esses são apenas alguns dos personagens iconográficos que ganharam o grande público através do cinema. Eles foram por muito tempo modelos de perfeição para o espectador que espelhava-se em seus hábitos, suas crenças e sua aparência em seus ícones.

Essa hipnose resiste nos dias de hoje, mas não se limita ao cinema e se populariza nos grandes editoriais e na TV. Estes ícones ou olimpianos como os chamaria Edgar Morin, já citados no blog pelo Diego, nos entorpecem com a sua “perfeição” e fazem com que desejamos ser a sua imagem e semelhança. Os ícones seriam então as extensões do nosso espelho, ou talvez o nosso desejo remeta que nosso espelho seja a extensão dos ícones da TV, do cinema e de alguns editoriais, pois a maioria de nós pauta a vida para atingir o grau de “elevação” destes ícones com o diferencial de tornar isso o mais perpétuo possível, pois ainda melhor do que ser a extensão de uma Gilda ou de uma Marilyn é manter-se por mais tempo possível nesta condição.

A relação do homem com o tempo dificilmente rompe com a questão estética que este tempo traz consigo. E com isso perdemos o real sentido de tempo que envolve experiência de vida. Em uma entrevista à revista VEJA, a atriz Fernanda Montenegro declarou sua posição sobre cirurgias plásticas "Quero envelhecer e ter rugas, fazendo meus personagens". A posição da atriz remete ao que fazemos do nosso tempo. Existem pessoas que utilizam seu tempo para adquirir conhecimento e enriquecer-se intelectualmente, além de trabalhar e se relacionar. Em pesquisa divulgada pela revista de Isto é 28/01/09, estas pessoas são as primeiras a deixarem de lado atividades físicas ligadas à saúde e a boa forma pela “falta de tempo” por acreditarem que dinheiro, carreira, família, lazer e amigos vem em primeiro plano. Já Outras pessoas perdem (ou ganham) tempo extra em academias e clínicas de estética para retardar o efeito do mesmo tempo.

A questão é: quem vive melhor? Quem usa o tempo para retardar seu efeito ou quem aceita as suas condições e vive intensamente cada minuto? A resposta é relativa pois ambas são experiências válidas, apenas divergentes. É claro que o equilíbrio seria a melhor maneira de atenuar os exageros causados pelo tempo.
Enquanto Madonna aguarda o “time out” (tempo esgotado) fazendo cirurgias plásticas, pulando corda no palco, irritando insistentemente a igreja católica desta vez se envolvendo com um homem trinta anos mais novo que “por acaso” se chama Jesus, Fernanda encara o tempo como uma dura conseqüência: “Envelhecer não é fácil. Nem para a própria pessoa, nem para quem assiste o envelhecer da pessoa.” Apesar disso encara esse processo com tranqüilidade e bom humor, tanto que ao ser questionada sobre a sua posição em relação às cirurgias plásticas, Fernanda é categórica: "Não tenho nada contra. Mas não quis fazer quando mais jovem e agora acho que passei da hora”.

Rainhas em territórios completamente diferentes, Madonna e Fernanda têm algo em comum: reconhecem que o tempo acaba, não é à toa que na última turnê da cantora americana, “Sticky & Sweet”, o som do tic tac do relógio esteve presente por cinco vezes no meio de suas canções de hoje e sempre (como podemos notar abaixo no trecho do video de divulgação do DVD da turnê, onde o clássico Vogue foi totalmente recriado, inclusive com sons do relógio).



Bem ou mal as duas sabem que seus reinados não rompem a barreira do tempo.






Referências:
*Cultura de massa : Neurose – Edgar Morin
*“Tempo é: dinheiro, carreira, família, lazer, amigos... ISTO É 2046 28/01/2009 – matéria de Eliane Lobato
* “Ter ou não ter rugas, eis a questão” VEJA 1777 13/11/2002 – Matéria de Silvia Rogar.
* http://www.sescrio.org.br/

FOTOS
www.madonnaonlinecom.br
jonasnuts.com/144321.html
www.icicom.up.pt
g1.globo.com/.../0,,MUL84401-7084,00.html

5 comentários:

  1. muito legal.

    o que acho massa é que cai na hipocresia do elixir da longa vida, você passa a vida inteira atraz dele, se pré- ocupando para morrer sem aproveitar o que a vida tem a lhe oferecer.

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  2. PQP!! O Jacques "tá tirando" com esses textos, né? Hahaha!

    A fascinação pelas imagens faz as pessoas buscarem a semelhança com seus ídolos à todo o custo esquecendo-se de outras coisas importantes, como a saúde, como você mesmo disse.
    Tudo o que é demais, atrapalha!

    PARABÉNS PELO TEXTO!
    Muito bom em forma e em conteúdo!

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  3. Que senso de humor, Heim? "arrasou", madonna irritando a igreja namorando Jesus? rsrsr
    Adorei a forma com que você destacou a mensagem subliminar do "TIC TAC" é uma reflexão muito boa.
    parabéns!!

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  4. O Seu post trata da comunicação com exemplos clássicos. Um exemplo verde-amarelo e outro de uma celebridade mundial.

    As duas são felizes, cada uma seguindo seu ritual e sua excência. Este texto que tú fez remete diretamente ao nosso trabalho sobre o Idoso na Mídia (apresentado essa semana), é isso ai Boy.

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  5. Oi Páris Jacques...

    E tenho de discordar de você "my friend" quando dizes que o tempo da Madona está acabando,eu acho que está apenas começando, pois mesmo depois de sua morte alguém escreverá em algum blog sobre quem foi Madona e a importância que teve para a música. Como você acabou de fazer quando sitou Rodolfo Valentino mesmo depois de 86 anos de sua morte.
    Acho que nessa vida, uns estão para adorar e outros para serem adorados.
    Portanto, Madona será eternamente "Like a Virgin"!

    Parabéns pelo post!

    Abraço!

    Luis Leite

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