terça-feira, 14 de abril de 2009

Rumo a 5ª Dimensão

Para estrear minha postagem, ao invés de falar do passado,
vou tentar contar a história dos meios de comunicação com um olhar futurista,
me baseando nos processos de hibridização dos meios de comunicação atuais
e projetando as possíveis evoluções desses meios na sociedade.

Para escrever este texto, utilizei primeiramente a inspiração de três livros
que me influenciaram muito nessa projeção futurista, são eles:
"Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley, publicado em 1932;
"1984" de Geroge Owell, publicado em 1949 e por último o conto
"O Scanner do Tempo", do livro "O Pássaro Raro", do filósofo norueguês Jostein Gaarder,
publicado em 1986.

É possível dizer que estes autores não escreveram esses livros
baseados em metodologia científica,
ou em algum esquema cartesiano de filosofia onde pudéssemos "provar"
a existência da realidade que eles projetaram em seus livros.

Porém para falar sobre a cultura humana de maneira acessível
para quem realmente deveria interessar (os próprios humanos)
foi preciso não seguir essas regras metodológicas
e falar de uma forma às vezes até descontrolada e emocionalmente intensa,
mas nem por isso deixando de utilizar argumentos sólidos
de quem conhece profundamente de perto a evolução e a condição humana.

O que estes três livros têm em comum é que eles projetam a evolução humana
através da observação das evoluções tecnológicas de suas épocas.

Huxley, ao escrever seu livro no início da década de 30,
teria sido provavelmente influenciado pela Revolução Industrial
que ambientou sua vida em meados do século XVIII
e pelo auge do desenvolvimento tecnológico das comunicações à distância,
como o telégrafo e telefone (segunda metade do Séc. XVIII) e o rádio (no início do século XIX).




O escritor George Owell, além de crescer ambientado pela invenção da TV,
teve a infância e a adolescência marcada pelas duas grandes Guerras Mundiais,
ele expõe em seu livro a influência política
que os meios de comunicação de massa passam a adquirir na sociedade,
e prevê também uma política absolutista
numa sociedade superdesenvolvida tecnologicamente.
A falar sobre o Big Brother (O Grande Irmão) ele previu como a sociedade ficaria dependente da imagem e de que forma isso seria um meio de controlar e alienar a sociedade.


O escritor Jostein Gaarder,
acaba sendo muito ousado também em seu conto "O Scanner do Tempo"
ao descrever de forma positivista e esperançosa a história da humanidade,
como se fosse um espírito vindo do futuro,
falando sobre invenções e descobertas científicas,
que mudariam completamente a condição humana.


Como Jostein Gaader está ambientado nos acontecimentos mais importantes de nossa época,
vou me limitar a falar mais sobre algumas questões que ele aborda no seu conto,
temas como o uso da TV, do Celular, do Computador e da Internet.

O grande conflito no conto do Jostein Gaarder é a descoberta do “Pleroma”.

O “Pleroma” seria uma descoberta científica que permite o homem a enxergar tudo que aconteceu na história do nosso planeta simplesmente ao digitarmos a longitude, a latitude e as datas e horas correspondentes com momento que a gente gostaria de ver como aconteceu.

"Já no século XVIII, o matemático francês
Laplace fantasiava a existência de uma
inteligência que conheceria a posição de
todas as partículas de matéria num
determinado momento. Para essa
inteligência, nada seria “desconhecido, e
o futuro e o passado se descortinariam
diante de seus olhos”.

Essa inteligência que Laplace
imaginou existe de verdade. Nós a
chamamos de pleroma — muito embora
ela não seja mais inteligente do que um
banco de dados.
Em 2105, Abdullah Rushdie
comprovou que todos os acontecimentos
do Universo são armazenados no
pleroma. De lá eles também podem ser
recuperados.

Quinze anos mais tarde, em janeiro
de 2120, já era construído o primeiro
protótipo de seu scanner do tempo.
O mundo ficou paralisado de
espanto. Com a ajuda dos dois
sintonizadores, agora era possível
desvendar todos os enigmas da história
que ainda não haviam sido solucionados.

Todos os acontecimentos da história
mundial podiam ser trazidos para a tela.
Não na forma de vídeos, filmes de época
ou documentários, não, diretamente do
palco da história."

Como já vimos no texto da Fabíola sobre Mídia Interativa,
a Internet já é um meio que se aproxima muito desse conceito do “Pleroma”.

Após a chegada da Internet há também um grande divisor de águas
na relação dos meios de comunicação com o homem.
A medida em que há uma interatividade e acessibilidade cada vez maiores destes meios,
o mercado de publicidade e propaganda passa a ter recursos
cada vez mais dinâmicos, eficientes e horizontais de pesquisa em comunicação.

Os meios portáteis de comunicação,
como o rádio havia sido no final da década de 70,
e o celular está sendo agora,
tornam híbridos os quatros principais meios de comunicação
e de conhecimento desenvolvidos pela raça humana.

Hoje é possível ter acesso de um celular à literatura com os E-books,
o jornal (cada vez mais empresas disponibilizam parte do conteúdo na internet),
o rádio (agora com o MP3, o consumidor cria sua própria playlist)
e a Televisão (que também está passando pelo processo de hibridização, com a nova tecnologia digital).






Será que há um limite para toda essa evolução ?!?!?

A primeira questão que o Jostein Gaarder levanta sobre o nosso futuro
é a partir do ponto de vista da essência de nossa própria natureza.
Logo no primeiro parágrafo do conto, ele já especula a sobre o limite da evolução humana
fazendo a seguinte pergunta para o leitor:
"para que sairíamos (de casa), se toda a vida se passa entre nossas quatro paredes?"
é uma pergunta que parece simples, mas há embutida nela um conceito muito importante para entendermos o futuro da nossa espécie. Lá no final do conto Gaarder volta a fazer uma pergunta, com um sentido parecido, porém de uma forma mais abrangente: "Para que se deveria, em meio a grande ausência de limites, colocar a todo custo um limite qualquer?"

Para tentar explicar o conceito dessas perguntas, vou relembrá-los da pergunta que eu fiz em sala de aula para o nosso querido professor Marcio Rodrigo: "Será que se o homem não houvesse criado extensões do corpo através das ferramentas, ele não criaria em seu próprio corpo extensões mais eficazes ?!?!? (A sola do pé mais resistente por exemplo, daí não precisaríamos de sapatos como extensão do nosso corpo).

Vou tentar esclarecer melhor dando outro exemplo:

De todas as coisas que evoluímos, as que evoluíram em menor ritmo foram as que estão diretamente ligadas às nossas necessidades físicas, como os talheres, os vasos sanitários, os fogões, as geladeiras, etc...

A partir disso dá para entender que o porquê o nosso limite é a nossa própria natureza.
Vamos ver mais um exemplo:

Ao ouvir uma entrevista que o Professor Luli Radfahrer Ph.D. em comunicação digital pela ECA-USP, cedeu ao programa Trip FM veículado na Rádio Eldorado FM, pude perceber algo muito simples, mas que pode ditar o caminho que iremos seguir a partir dessa limitação da natureza que ainda temos.

O Dr. Luli fala sobre o teclado dos computadores, segundo ele, na evolução tecnológica do computador por exemplo, não tem cabimento a diminuição dos teclados de computadores, pois eles já chegaram no limite do tamanho que as nossas mãos ficam à vontade para digitar, ou seja, nesse caso o nosso limite seria o próprio tamanho de nossas mãos.

Recentemente jornais de tecnologia emos que na verdade os novos computadores com a tecnologia do touch screen (toque na tela) poderiam substituir futuramente o teclado atual que conhecemos, há ainda pesquisas envolvendo o acesso aos menus do computador através de reconhecimento de voz, apesar dessas novas tecnologias ainda estarem em desenvolvimento, não é difícil imaginar que ainda inventaremos uma interface de acesso aos computadores através de eletrodos sem fio que fixaremos em nossas cabeças, daí nem das mãos nós precisaremos mais, pelo menos para isso.



No Capítulo Consciência Arbitrária, Jostein Gaarder se difere determinantemente
do pessimismo do Huxley e do Owell em relação aos meios de comunicação,
talvez por já pressentir ou enxergar o quanto os dias do monopólio
desses meios de comunicação estavam contados
com a chegada do novo meio que revolucionou a nossa época, a internet.

Com a chegada da internet, caiu por terra o paradigma de Jackobson,
o muro que dividia as relações entre emissor meio e receptor.
A interatividade fez o fluxo de informações se tornar horizontal e bidirecional.
Gaarder conta como a TV chegou em seu auge após unir os principais meios de comunicação, podemos até fazer uma comparação com a entrevista do Professor Radfahrer, quando ele fala sobre o Skype e outros tipos de softwares gratuitos, a partir desse ponto duas grandes questões passam a ter que ser reavaliadas pela sociedade, primeiro a questão dos direitos autorais e segundo a questão da técnica não poder mais ser comercializada, pois sempre haviam pessoas dispostas a disponibilizar gratuitamente aquilo que antigamente todas as outras empresas cobravam.

Com a chegada da interação entre emissor e receptor, aos poucos não se podia mais diferenciar quem era o emissor e quem era o receptor. Essa mudança fez com que a humanidade tivesse que readaptar conceitos como o dos direitos autorais e depois até das leis de propriedade privada.


É notável que os novos meios de comunicação foram criando sempre novos paradigmas para a sociedade, estamos vivendo cada vez mais numa velocidade de evolução em que a grande maioria das pessoas não consegue acompanhar. O meio ambiente se torna cada vez mais competitivo e hostil, as pessoas se tornam cada vez mais individualistas e desumanas. O processo de evolução em geral prioriza a técnica e desvaloriza o as relações humanas. O conhecimento cada vez mais passa a ser mais importante do que sua utilidade orgânica. Em meio a tantos que precisam provar que são os melhores e sem muito tempo para argumentar e dialogar profundamente sobre as questões da vida deixo aqui um pergunta ousada e inocente:

Precisamos provar nossos limites para nós mesmos ou para o resto da humanidade?

Talvez o pessimismo de Huxley e Orwell não tenha sido totalmente em vão...
Postado por Johnny Nogueira dos Santos
Pierre Levy A interatividade vista como problema
A Propriedade Intelectual na Era da Internet
Propriedade intelectual na era digital
Entrevista na Rádio Eldorado com Lulli Radfaher

8 comentários:

  1. Primeiro eu queria te dar parabéns Johnny pelo texto fantástico, seu texto é bem complexo,em relação ao individualismo e a competitividade penso eu que não seja tanto pela grande evolução da nossa época, vale a pena ressaltar que na era tipográfica e mecânica o individualismo era muito forte também e penso eu que a competitividade que é algo muito forte no ser humano de todas as épocas tem sido muito mais na nossa por a grande massificação humana, sendo que a humanidade cresceu desproporcionalmente principalmente nas grandes cidades e as organizações políticas e sociais não conseguiram acompanhar o mesmo ritmo, fazendo com que nós precisássemos cada vez mais nos entupir de conhecimentos para fazer parte de um mercado de trabalho que já se pré supõe competitivo.

    flw abraço

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Pessoal,

    O blog de vocês é bem legal. Parabéns. Saibam que nós do "jornalismo" também criamos, recentemente, um blog para por em debate as nossas aulas e acontecimentos gerais do mundo. Entrem, comentem e fiquem a vontade para criticar.

    www.convermidia.blogspot.com

    Abraço,

    Fernando Richter
    www.pbcomfernandorichter.blogspot.com

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  4. ♂♂ Uma questão pouco explorada e de total importância foi abordada no seu texto: o distanciamento das pessoas por causa das máquinas!
    Nos entorpecemos pelas nossas extensões e deixamos que elas nos dominem e acabamos vivendo em função dela.
    Ainda prefiro um bom papo numa mesa de bar com amigos de verdade do que qualquer conversa com vários conhecidos no msn!

    Parabéns pelo texto ♂♂

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  5. Caro Johnny!

    PARABÉNS!!!!!

    O bichinho da pesquisa e reflexão mordeu definitivamente você. Estou emocionado com tamanha reflexão.
    Só este texto já te valeu a nota do trabalho do semestre de Comunicação Comparada, ou seja, este blog. Ela é 10,00 (DEZ) com distinção e louvor.

    Que brilhem suas ideias! Elas são muito interessantes!

    Que venha a prova!

    Márcio

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  6. Acredito que precisamos provar nossos limites para a humanidade.Porque sempre temos que aprender novas "manias", formas de usar determinados aparelhos acompanhando assim a tecnologia moderna. E isso é necessário, pra não ficarmos ultrapassados neste mundo que é pra lá de globalizado. E dessa forma muitas vezes vivemos com um conhecimento supérficio.
    O Post está muito comparativo e várias visões diferentes,ou seja,bem pesado rs.

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  7. Muito bom Johnny!
    E como voçê sita em seu texto, talvez o choque causado pela revolução indústrial, em um cara como Huxley tenha sido o estopim para ele profetizar através do seu livro Admirável Mundo Novo, que um dia, o ser humano seria tão frio quanto o metal que é usado para se costruir uma máquina.

    Parabéns!

    Abraço!

    Luis Leite

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