domingo, 12 de abril de 2009

A evolução dos meios de comunicação:
Aproximando pessoas?

“Cumpri minha promessa e fui a seu apartamento. Nos primeiros dez minutos, falamos da vida como não fazíamos havia bastante tempo. Em seguida, tocou o telefone.
- Um momento.
Iniciou-se uma longa discussão sobre quem compraria os ingressos para um espetáculo. Já estava desligando quando se ouviu o celular. Pediu licença no telefone e atendeu. Era alguém discutindo um problema profissional. Depois de duas respostas, meu amigo disse que, como o assunto era complicado, ia terminar um telefonema e ligaria em seguida. Falou rapidamente com a primeira pessoa, desligou e voltou ao celular. Foi a vez do bip, que tocou insistentemente. Pediu desculpas, foi ver a mensagem. Recado urgente para chamar determinada pessoa. Novamente, trocou mais algumas frases ao celular. Desligou. Pediu-me novas desculpas. Ligou para quem o havia bipado. Mais questões de trabalho. Quando anotava alguns detalhes, a linha, digital, anunciou que mais alguém estava querendo desligar. Pediu licença e atendeu a outra linha. Olhou para mim e murmurou desculpas. Combinou rapidamente os detalhes de uma festa-surpresa no fim de semana. Foi fazer um café, com o sem-fio acoplado à orelha. Volta o celular. Ele tenta botar o pó no coador, com um aparelho em cada orelha, e falando nos dois ao mesmo tempo. (...) Certas pessoas estão grudadas aos telefones, celulares, bips e e-mails. Inventou-se de tudo para facilitar a comunicação. Às vezes acredito que, justamente por causa disso, ela anda se tornando cada vez mais difícil.” (Trecho de “A vida pelo telefone” de Walcyr Carrasco)

Poderia um meio de comunicação incentivar o distanciamento das pessoas? E o que dizer de diversos, ou ainda TODOS esses meios causarem o afastamento das pessoas? Fato é que os meios de comunicação foram criados com o intuito de aproximar as pessoas e facilitar as relações humanas, contudo há outro lado que merece ser observado: A perda do contato humano.

A invenção de alguns aparatos tecnológicos tais como telefone (primeiro o fixo e posteriormente, o telefone móvel) fax, pager e, mais recentemente, a internet, indiscutivelmente possibilitou um maior e mais freqüente “contato” entre as pessoas, além de agilizar e tornar quase que imediata a troca de informações e idéias. Raríssimas são as pessoas que não possuem, no mínimo, um telefone celular e um endereço eletrônico. À medida que esses meios foram evoluindo e o acesso a eles, facilitado pelas novas tecnologias, acabamos, sem perceber, substituindo as reações humanas pelo uso desses objetos e nos tornamos dependentes de nossas próprias criações. Para comprovar esta dependência, paremos para observar há quanto tempo não encontramos propositadamente com este ou aquele conhecido ou quando foi a última vez que fizemos uma visita a um amigo. Salvo algumas exceções, a maioria das pessoas não mais mantém o hábito de encontrar-se, de manter contato físico, com os indivíduos de seu meio social.

Para o filósofo, mestre e doutor em Educação pela PUC-SP, Mario Sérgio Cortella, estamos vivendo a era da “despamonhalização”. O termo refere-se justamente à iguaria de milho, a qual para ser produzida exigia a reunião das pessoas no processo de produção. O termo usado pelo filósofo pretende demonstrar justamente a perda desse contato entre as pessoas, ao afastamento dos indivíduos causado, entre outros fatores, ao fácil acesso aos meios de comunicação que acaba “eliminando” a necessidade do contato humano entre os indivíduos.

Não há como negar a grande importância da evolução dos meios de comunicação e o quão fundamental essas invenções se tornaram em nossas vidas, no entanto, precisamos nos policiar para que essas facilidades tecnológicas não resumam o contato realmente humano à e-mails, telefonemas e scraps.
Fontes:
CARRASCO, WALCYR. A vida pelo telefone. Veja SP, p.134, 2000

10 comentários:

  1. Gostei muito, muito bom o fato de você ter colocado a despamonhalização, coloco uma pergunta, se Narciso soubesse que a pessoa que ele via no lago era só seu reflexo, um bonito, mas simples reflexo, ele se jogaria no lago?
    Acho que o que atrapalha não são os meios, mas sim a falta de informação, as pessoas não saberem que os meios são mensagens também e darem a eles somente o valor de lazer e informação quando muito, ou seja, a subestimação dos meios pela população, penso eu que é por isso que grande parte dos intelectuais tem em seu discurso uma superestimarão a esses mesmos meios, o que é sensato em certo ponto tendo em vista que por causa da prensa se houve a "Reforma" ou seja, se a população percebesse essa narcotização e usasse esses meios com moderação certamente essa evolução tecnológica nos mostraria mais lados bons do que ruins.

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  2. ♂ ♂ Oi cris...
    é aquilo que o professor falou em sala do ir á um show ao vivo ou assistí-lo com uma riqueza maior de detalhes em DVD! Nenhuma experiência é superior à outra, é apenas diferente! O grande problema é que o ser humano costuma se acomodar com aquilo que lhe proporciona certo conforto e acaba deixando de lado as outras experiências e isso é uma atitude um tanto quanto perigosa. VocE assistiu "Wall-E" é uma animação que conta a história de um robozinho do futuro, a sociedade mostrada no filme foi se acomodando às facilidades da tecnologia e vive de maneira letárgica em função das máquinas, serve pra pensar...
    Belo texto
    Bjos tchau ♂ ♂

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Adorei o texto Cris, lendo o Cibercultura do Pierre Levy encontrei uma visão mais otimista dos meios, acho que assim como aquela questão que psicólogos usam em dinâmica, "sempre poderemos ver o copo meio cheio, ou meio vazio", podemos ser otimistas ou pessimistas em relação aos novos meios de comunicação. É importante lembrar antes de tudo, que somos dependentes de muitas coisas orgânicas ainda, por exemplo, não é específicamente uma arma que mata uma pessoa, e sim uma pessoa que mata outra pessoa, ainda que a gente consiga criar inteligência artificial capaz de fazer escolhas, teria sido criação nossa e isso já seria a nossa contribuição orgânica.

    Ass.: Johnny Nogueira dos Santos

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  5. Obrigada pelos comentários!

    Eu acredito que os meios de comunicação facilitaram E MUITO a comunicação entre as pessoas. Calma! Não estou me contradizendo. Rs... O intuito deste texto foi despertar um pouco a atenção das pessoas em relação ao contato pessoal entre os indivíduos. Muita gente substitui o encontro presencial por um e-mail ou uma mensagem de texto enviada do celular, e a facilidade que isso proporciona faz as pessoas se "acomodarem", como bem disse o Jacques. É somente um outro lado da história sobre o qual podemos refletir.

    Beijos!!
    Cris

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  6. Oie! Eu gostei do seu post, pois é uma ótima reflexão... afinal de contas os meios de comunicação facilitam um contato distante, seja de uma pessoa ou de um lugar / fato. O que muitos não devem esquecer é que o contato físico é muito mais gratificante, o qual não deve ser substituido pelas tecnologias. Você já assistiu a animação Wall-E? Caso não, dê uma olhada, pois ela traz em seu roteiro um pouco da crítica de que no futuro as pessoas passarão a se comunicar mais através de aparelhos tecnológicos, substituindo o contato físico, mesmo se a pessoa estiver do lado, fará questão de conversar com a mesma através do computador. É como se as pessoas fossem dominadas por suas próprias extensões...

    bjos!!

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  7. Se não me engano, no final deste texto do Walcir os amigos combinam de ligar para conversarem... hahahahah

    Na vida há duas coisas que geram problemas: a falta e o excesso...

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  8. Isso! O amigo que vai embora diz que vai "mandar um e-mail pra ver se eles conversam melhor", o dono da casa acha ótimo e não entende a ironia. O texto inteiro é ótimo!

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  9. Este texto do Walcir tenho certeza que muitos se indentificaram com ele rs.
    Agora a citação feita de Wall-e foi muito pertinente.Porque este filme mostra o que pode acontecer com a humanidade. Essa animação tem uma visão bem pessimista, onde as pessoas são controladas e esbanjam sua tecnologia arrojada e cada vez mais atual.E no meio disso existe um Robô, que é mais humano que muita gente por ai,diria que é um filme muito educativo. E ele me fez lembrar ET lembram ? (do Steven Spielberg) ET é um clássico da minha infância rsrs.

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